quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Promiscuidade na imprensa.

No dia da vitória do Manchester City sobre o Basel, eu fiz um post sobre o jogo e um dos comentários não foi sobre a partida em si, mas sobre a transmissão dos canais Esporte Interativo. Durante o jogo eles anunciavam uma promoção para levar um sortudo para ver o jogo de volta entre PSG e Real Madrid na França e o parceiro para essa promoção era o próprio clube francês.

No comentário no post eu falei que isso me parecia uma relação promíscua entre os envolvidos porque não teria a certeza se os funcionários do canal (narradores, comentaristas) poderiam criticar o time do PSG ou teriam que segurar a onda já que há uma relação comercial entre canal e clube. Nessa semana a Folha de São Paulo divulgou algo maior que mostrava a parceria entre a imprensa e um jogador de futebol, no caso Organizações Globo e Neymar.

De acordo com a publicação, nos anos de 2014 (Copa do Mundo no Brasil) e 2015 vigorava um contrato entre as partes que dava benefício para as Organizações Globo como entrevistas exclusivas e preferenciais, participação do jogador em programas e a transmissão de qualquer parte desses programas poderia ser cancelada se o staff do atleta entendesse que não faria bem para a imagem dele.

Nesse período também quem participava das transmissões dos jogos de seleção pela emissora carioca era o ex jogador Ronaldo que, se não estou enganado, era empresário do Neymar, ou seja, também haveria conflito de interesses.

Em 2016 durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro, não havia mais contrato, foi um momento de tensão entre jogador e Globo. A seleção brasileira estava mal na fase de grupos e o narrador Galvão Bueno explanou o Neymar por não querer dar uma entrevista após um dos jogos. Quando conquistou  a medalha olímpica o jogador imitou Zagallo e mandou "vocês vão ter que me engolir".

A imprensa em geral e de maneira correta sempre diz que seu trabalho tem que ser livre para não impedir o acesso às informações à ninguém. Só que como fica essa mesma imprensa quando faz acordos comerciais com pessoa física ou jurídica e tem que mostrar que a outra parte da relação não está sendo honesta com seu público, seus clientes?

O Neymar teve problemas com as receitas federais tanto no Brasil quanto na Espanha. Será que a cobertura das Organizações Globo foi suficientemente boa para mostrar todos os problemas do caso ou por contrato eles não poderiam criticar tanto quanto deveriam?

A Globo confirmou a existência do contrato, será que teremos acesso ao conteúdo do contrato para sabermos quais eram os direitos e deveres de cada uma das partes e o quê isso traria de "prejuízo" para os consumidores de informações das Organizações Globo. E outra coisa, será que há um novo contrato entre eles pensando na Copa do Mundo da Rússia nesse ano?

O papel da imprensa é fiscalizar por isso precisa de liberdade e não ser assessoria de imprensa de ninguém, o Neymar ter dinheiro suficiente para contratar uma assessoria, não precisa que uma concessão pública o faça. Agora quem fiscaliza a imprensa? Vão querer gritar "Censura", mas casos como esses dois mostram que talvez a informação seja menos importante que a negociação.

Um comentário:

  1. Vindo da Globo nenhuma novidade. Enquanto existir esse canal, nada vai mudar, no futebol e principalmente na política brasileira. Eles são experts em manipulação de notícias, mandam no Brasil. Aqui em casa a Globo não existe, bom seria se houvesse um boicote dessa emissora, mas infelizmente isso nunca vai acontecer. Globo representa o povão. Ainda.

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