Balanço Financeiro Manchester City

Há pouco tempo foi divulgado o balanço financeiro do Manchester City referente ao período de 01 de junho de 2015 até 31 de maio de 2016, o ano fiscal deles é a temporada de futebol. Esse relatório mostra que uma evolução do valor arrecado pelo clube desde a temporada 2009-10, além de conseguir controlar seus gastos, boa parte deles forçados por regras de contenção de despesas da UEFA, o Fair Play Financeiro.

A temporada de 2009-10 foi a primeira inteira do novo comando na direção do clube, a compra do clube aconteceu quando o time já jogava em 2008-09, foi em primeiro de setembro de 2008. Com a intenção de transformar o clube numa potência no cenário do futebol, os proprietários não ficaram tímidos e abriram a carteira para gastar, o clube teve despesas mais de duas vezes maiores que suas receitas e o prejuízo de £ 121 milhões já chocou. E na temporada seguinte, o clube bateu o recorde.

Mais uma vez as despesas superaram a arrecadação é o prejuízo foi de £ 197 milhões do clube como um todo. Na época foi considerado o maior prejuízo na história do futebol, não sei como anda esses números atualmente, com certeza é Top 3, não tem para onde correr. Não havia regras de controle de gastos e os caras queriam gastar (investir) o dinheiro deles.

Com o passar das temporadas, a proposta sempre enfatizada pela diretoria foi sendo cumprida: primeiro um gasto para tentar se igualar aos rivais no futebol, depois equilíbrio das contas, para depois gerar lucro ao Manchester City. Após um período de cinco temporadas, o clube fechou no azul pela primeira vez em 2014-15, £ 10 milhões. Um valor tímido ainda, mas que dobrou em seguida para £ 20 milhões.

                                             

O grande impulsionador para esse aumento em 2015-16, onde o total arrecadado foi de £ 391,774 milhões, foi a excelente campanha do time na Liga dos Campeões, quando o clube chegou às semi finais e foi o que mais recebeu dinheiro da UEFA, seja de transmissão de TV ou premiação. A grande vantagem do City em relação aos outros três semi finalistas foi o Market Pool, algo que irei tentar explicar no futuro, mas tem relação com o mercado de TV de cada país, e a quantidade de represantes desse país na competição: dos mais de 61 milhões de libras que o City levou, £ 34 milhões é relativo ao Market Pool. O restante é premiação por mérito.

O clube fatura mais a cada temporada no quesito Matchay, tudo aquilo que é relacionado ao dia do jogo. Em 2009-10, o time não jogou nenhuma competição da UEFA, depois disso jogou em todos os anos e tem feito por volta de 28 jogos em casa a cada temporada. Com o aumento da capacidade nessa última, a arrecadação saltou em quase £ 10 milhões, a média de ocupação é de quase 100% em jogos da Premier League. Há ainda o planejamento para ampliar mais uma vez o estádio com o aumento global do marca do clube. É algo que os torcedores locais não gostam, o turista porque ele aceita pagar um ingresso mais caro porque é um evento quase único para ele. Com certeza isso não tem mais volta.

O Lucro ou Prejuízo do City leva em consideração não apenas receitas e despesas com o futebol, mas algumas contas que não são do escopo direito do futebol como por exemplo pagamento ou recebimento de juros, o Leasing do estádio ( acho que pode ser porque o estádio pode gerar outras receitas como shows por isso não seria classificado como "despesas ordinárias") e o mais interessante é a receita vinda com Profit on disposal of players’ registrations, em tradução livre Lucro com Cessão do registros dos jogadores.

Eu não tenho explicação o porquê de em quase todos os balanços financeiros que achei esse valor é sempre positivo, por que não haveria uma conta de prejuízo com contratação? Pode ser que há uma conta desse tipo, a chamada Amortização dos Registros dos Jogadores que o somatório de todas as médias entre o valor da contratação pelo período de validade do contrato de cada jogador. Por exemplo, se um jogador foi contratado por £ 10 milhões por um período de cinco anos, a cada ano seria amortizado £ 2 milhões. Se essa conta de Amortização seria a "inversa" da de Lucro é uma especulação minha, contabilidade não é a minha praia.

Voltando a conta de Lucro dos registros, quando City teve Lucro foi essa conta que salvou porque se não a tivesse seria mais dois anos de prejuízo. Para constar, essa conta teve em 2014-15 valor de £ 12.9 milhões e em 2015-16, £ 20.7 milhões.

No gráfico abaixo podemos ver todos os valores de arrecadação do City desde 2009-10, separados por receita (o valor "Outros" se refere a soma das duas Copas Inglesas, bem ridículos na verdade) e com a posição no ranking da Deloitte a cada ano. Houve um avanço significativo do City ao longo dos anos, apesar de ter confortavelmente estacionado na sexta posição nos últimos levantamentos. Como na Inglaterra, a moeda é a libra, é necessário fazer a conversão para Euro e para o relatório da Deloitte que será divulgado em 2017 de acordo com o período de 2015-16 será usada a data de 31/06/2016, alguns dias depois do Brexit, quando a libra perdeu valor absurdamente frente as outras moedas. 

É possível que o City não perca posição no ranking, devido a desvalorização da libra, porque os times atrás dele são três da Inglaterra e o quarto é a Juventus que faturou menos com a Liga dos Campeões e estava mais de £ 100 milhões de libra atrás.

 Um dos indicadores para saber a saúde do clube é o percentual do gasto com salários e custos sociais em relação ao faturamento, já que essa despesa representa a maior parte das saídas de dinheiro do clube. Se você paga mais de salário apenas do que você recebe, a coisa não está muito boa. No auge, essa relação foi de 114%, agora foi reduzida para 50%. 

                                       

Acredito que essa relação já seja muito boa porque a cada 1 libra que você recebe, você gasta 0,50 centavos e sobra outros cinquenta para gastos com melhoria do clube. O Arsenal, por exemplo, tem essa relação de 56%. Eu acho que o City deve melhorar esse índice na próxima temporada já que o contrato de TV da Premier League aumentará consideravelmente a receita dos clubes, mas tem que ver como os clubes estão gastando, vários quebraram os recordes de transferência na última janela.

O balanço financeiro (se não estiver maquiado, é claro) mostra que o time está alcançado seus objetivos fora de campo também, que era se tornar equilibrado e auto sustentável. O investimento feito pelo Sheik Mansour colhe resultados porque conseguiu vender 13% das ações do clube por um valor maior que o gasto para comprar a totalidade das ações em 2008. 

Apesar das minhas restrições pelas compras desfreadas de clubes de futebol por parte de milionários que podem usá-los para lavagem de dinheiro, é possível afirmar que o Manchester City não é um passatempo e sim um investimento sério e agora rentável.